Um super inegociável

O empresário Franco Stedile embarcou para os Estados Unidos com uma ideia fixa: trazer um Camaro Z/28 original para fazer a sua primeira restauração de um clássico esportivo: Camaro Z/28 1973

01/04/2014 Inegociáveis C20 Comunicação Vinicius Todeschini

Quando a dupla Munhoz & Mariano estourou com a música “Camaro Amarelo”, em junho de 2012, muitos brasileiros sequer imaginavam como o carro foi é venerado há quase 50 anos. Na letra, eles cantam: “Agora eu fiquei doce igual caramelo; Tô tirando onda de Camaro amarelo.” Mas na vida real, as versões em branco, vermelho, preto e cinza, se cruzarem por você, também merecerão atenção mais do que especial.
A primeira geração do Chevrolet Camaro foi lançada em setembro de 1966, em três modelos, incluindo o conversível. Segundo os especialistas, o surgimento do veículo teria sido uma “resposta” da GM ao Ford Mustang, de 1964. Na época, a internacionalização da Chevrolet acabou fomentada pela legislação mais rigorosa de países que exigiam montagem local. O carro acabou sendo construído também na Suíça, Bélgica, Venezuela, Perú e Filipinas.
Mas foi o modelo Z/28 que, de cara, revelou o poder dos esportivos, sobretudo pelo desempenho e design. Com motor V-8, transmissão de quatro velocidades (até então, o padrão para este tipo de veículo eram três velocidades) e freios à disco, logo o Camaro seria reverenciado e popularizado.
Sabendo de tudo isso, o empresário Franco Stedile embarcou para os Estados Unidos com uma ideia fixa: trazer um Camaro Z/28 original para fazer a sua primeira restauração de um clássico esportivo. “Não foi uma tarefa fácil”, conta ele. Mesmo com todas as pesquisas e contatos, de acordo com Stedile, lá fora é bem possível “comprar gato por lebre”. “Numa das maiores feiras americanas, encontramos umas 15 opções de Camaro, mas a maioria já havia sido reformada, convertida e até, falsificada”, lembra.

“Não dá para ir buscar o carro nos EUA e errar na compra. O original tem um valor agregado incalculável, principalmente na configuração que procurávamos.”


E o empresário conseguiu: trouxe para Vacaria um Z/28, 1973, “de plaqueta”. “Isso significa que todos os itens de série estão no carro e relacionados numa placa fixada no próprio automóvel”, garante o empresário.
Ele conta que na hora de escolher o carro, não foi difícil saber diferenciar modelos e suas alterações.

“A carroceria do Camaro começou a ser produzida com um desenho específico de 1967 até 1969. Em 1970, ele recebeu nova frente, mais bicuda. Em 1973, a legislação americana mudou e os automóveis tinham que sair da fábrica com goleiras e os para-choques inteiros”, elenca Stedile.


Neste modelo, as rodas são de aço estampado e as calotas embutidas no meio, itens só encontrados no Z/28 original. “Este carro pertencia a um militar americano, que apesar de cuidá-lo, não o tirava da garagem há pelo menos oito anos”, lembra o empresário. Mesmo assim, o Z/28 rodou 300 quilômetros para chegar à feira. “Ele estava muito conservado”, diz.
Mas Franco Stedile explica que para restaurar, precisou desmanchá-lo totalmente. “Refizemos todos os detalhes, com a cor gris (um cinza quase chumbo) e as faixas originais.”
O processo de compra é quase burocrático e exige conhecimento e argumentação. Mas, principalmente, paciência. Segundo Stedile, nas feiras de automóveis antigos, muitos vendedores são pessoas comuns que guardavam seus veículos há anos, sem muitos cuidados. “Mas os compradores são especializados”, conta o empresário. Para facilitar, ele mantém uma ‘trade in’, empresa que faz a intermediação da negociação. “Não posso ir para a feira com uma sacola cheia de dinheiro na mão. E os americanos são muito desconfiados, o que acrescenta um grau de dificuldade”, explica.
No caso do Z/28, o militar americano era “duro de negociar”. “Ele não aceitou que déssemos um sinal na hora para que ele levasse o carro de volta para casa e depois buscássemos.” O negócio não foi fechado, mas ele saiu da feira sem vender o Camaro. Depois de aproximadamente 15 dias, a trade in conseguiu finalizar a negociação por 16 mil dólares.

“Hoje, este mesmo carro não seria vendido por menos de 35 mil dólares. E agora, depois de restaurado, lá ele seria ‘incomprável’”, garante Stedile.


Depois da compra oficializada, foi a vez de providenciar a importação. Para isso, a FBVA (Federação Brasileira de Veículos Antigos) fez a tramitação burocrática junto à Receita Federal. E esta, por sua vez, contou com avaliação do instituto Get Price para calcular o valor dos impostos. O Camaro Z/28 chegou ao Brasil por R$ 100 mil. Franco Stedile calcula que para restaurá-lo, foram consumidos outros R$ 100 mil. O empresário diz que a primeira coisa que fez após a compra foi trocar os quatro pneus, ainda nos EUA. “Foi muito mais vantajoso trazê-lo com os pneus novos e originais.”
Em maio, o Z/28 restaurado por Stedile será uma das atrações do maior encontro de colecionadores do Brasil, em Campos do Jordão. No futuro, o empresário irá em busca de uma Ferrari ou um Porsche, para citar apenas dois clássicos.

“Essa é uma compra de longo prazo, que merece muito planejamento, mas que no final, é muito prazerosa”, resume.

CURIOSIDADES:

1. Em 1967, o Camaro foi escolhido como “Pace Car” oficial das 500 Milhas de Indianapolis.
2. Em 1974, a alta do petróleo fez com que a Chevrolet optasse por não fabricar mais o Z/28.
3. Os modelos Camaro tiveram sua produção interrompida em 2002, mas retomada em 2009, também, segundo especialistas, para fazer frente ao Mustang de 2004.
4. Em 2013, o Z/28 seria relançado no Salão do Automóvel de Nova York.
5. O primeiro filme da franquia “Transformes” tem um Camaro que se transforma em um robô aliado dos humanos. Ele voltaria às telas em 2009, na continuação do filme.
6. Em 2010, a Chevrolet trouxe o Camaro oficialmente para o Brasil, adaptado para o território nacional, mais de 40 anos depois de seu lançamento.

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