Ronaldo Cunha Dias

Fomos a fundo no prontuário do Dr. Ronaldo e descobrimos que seu principal remédio é a alegria, em doses cavalares, sem qualquer contraindicação, para mudar o mundo através de um mergulho na arte e nos sonhos que nunca podem morrer

10/03/2017 Especiais Gabe Moraes Bruna Bueno

Ele nasceu bem no dia do amigo - 20 de julho de 1951 - em Cachoeira do Sul, mas com apenas um ano veio para Vacaria, terra escolhida pelo pai para estabelecer sua farmácia e a vida da família. Sua infância foi baseada em desenhar, nada de futebol nem de sair com os amigos, suas companhias preferidas eram o lápis, o papel e uma criatividade que nasceu junto com ele e já se manifestava quando aos quatro anos desenhava o tempo todo, fato provado por sua mãe que guardava cada desenho.


Foi no antigo colégio São Francisco que o talento de Ronaldo foi reconhecido e incentivado, quando em uma aula de artes a tarefa era fazer um desenho livre, logo ele que vivia para desenhar. O professor, diante de tamanha criatividade não se contentou em lhe dar nota dez, deu onze, nota recebida com a mesma alegria de quem ganharia inúmeros troféus em salões de humor pelo mundo. No próximo desenho, onze também era pouco, ganhou doze para que a partir daquele momento jamais desistisse do sonho de ser um grande desenhista.

Após o secundário era hora de partir para a faculdade, sua primeira e única opção sempre foi a medicina, e lá foi ele, acompanhado pelos seus desenhos. Na época da faculdade, não havia a possibilidade de divulgação da sua arte, mas a compartilhava entre amigos, alimentando sua criatividade, até que um dia foi parar na redação da Zero Hora, e não deu outra, foi publicado. O passatempo despretensioso foi tão bem aceito, que foi colaborador do jornal por um bom tempo. A partir de então começou a participar de concursos e salões de humor em vários lugares do Brasil e no exterior, enviando seus trabalhos com a intenção de divulgá-los, mas na maioria das vezes voltavam premiados.


Alemanha, Japão, França, Espanha, Coréia do Sul, Indonésia, Turquia, Iugoslávia, Bélgica, Croácia, Portugal, e tem mais. Sua linguagem ultrapassou fronteiras, pois se na charge é preciso a contextualização temporal dos fatos, com críticas feitas em cima da hora, de cunho mais político, no cartum a ideia ser é atemporal, universal, um humor que possa ser compreendido em qualquer lugar que for enviado. Não é preciso palavras, apenas interpretação da sagacidade do cartunista. O Banco de Cartoons da Inglaterra guarda em torno de dois mil desenhos dele, que dali são distribuídos para vários lugares da Europa e dos Estados Unidos. O traço de Ronaldo já foi visto nas mídias mais famosas e reconhecidas do mundo, como o jornal The New York Times e na BBC de Londres.

Em 1986 foi o vencedor do concurso Descobrindo Novos Humoristas da revista Playboy, seu primeiro grande prêmio, com um cartum que evidenciava o que cada pessoa pode esconder atrás de sua própria imagem, e devido a isso, sua colaboração na revista durou aproximadamente três anos. O prêmio o motivou pelos inúmeros convites e oportunidades que começaram a surgir. Colaborou como chargista do jornal Pioneiro por vinte e quatro anos, e da seção Campo e Lavoura da Zero Hora por mais de vinte anos. Entre suas incontáveis premiações lembra com carinho de alguns que o marcaram muito, como os primeiros lugares no Salão de Humor Piracicaba em 2016, primeiro lugar na Turquia em 2010 , primeiro lugar nos Estados Unidos em 2009 e primeiros lugares em Portugal nos anos de 2009 e 2012, que é de onde vem uma lembrança incrível “Quando subi ao palco para receber a premiação do PortoCartoon, fui o primeiro a ser cumprimentado pelo presidente do país, naquele momento eu precisa dizer alguma coisa e o falei: Senhor Presidente, trago cumprimentos e os abraços da minha cidade Vacaria-RS, e para minha surpresa ele respondeu que conhecia e mandava abraços para nossa cidade.”

Por muitos anos todos o perguntavam como conciliar a medicina e o cartum, fato esse explicado da maneira mais Ronaldo possível: naturalmente. Suas ideias surgem a todo instante, em uma ida ao supermercado, ouvindo rádio, olhando as redes sociais e até durante uma cirurgia, não raro encontramos cartuns onde o médico une as duas paixões, brincando com situações de sua primeira profissão. Se no início de sua carreira usava pseudônimos em suas publicações, hoje é impossível não vê-lo como médico-cartunista, assim, bem juntinho. Suas publicações estão também nas revistas da Unimed, estampadas em materiais e campanhas da secretaria municipal da saúde, nos postos e unidade de pronto atendimento, seu desenho é uma distração até mesmo nos momentos mais difíceis. Atualmente sua atuação na medicina mudou um pouco, é médico auditor da secretaria da saúde, e tem como outra paixão fazer remoções de pacientes em UTI móvel, atividade que realiza há muito tempo, mas não possui mais consultório, e diminuiu as atividades cirúrgicas, pois sentiu que era hora de mudar seu ritmo.

O desenho de humor dá prazer não apenas para quem vê, mas para o cartunista. Fazer um desenho e saber que a tua mensagem tem um poder humorístico de ultrapassar qualquer distância mudou muito a minha forma de levar a vida.”

Em um de seus mais recentes trabalhos chamado A dádiva de cuidar, em parceria com os médicos Wilson Freire, Carlos Reinaldo Carneiro Marques e Paulo Fernando Barreto Campello de Melo, através da linguagem de cordel e dos cartuns informam a importância do cuidado para gestantes, com uma sensibilidade ímpar em orientar esse momento especial com uma linguagem acessível. O encontro entre os profissionais se deu através do projeto do Dr. Paulo chamado Medicina e Arte, uma associação que visa utilizar a arte como uma ferramenta de estimular o sucesso nos tratamentos médicos, onde a arte em suas mais diversas formas torna-se uma maneira divertida e criativa de recuperação, o paciente que teve um AVC, ao invés de utilizar uma bolinha para estimular os movimentos, aprende a tocar bateria, ou então, o paciente que teve um problema pulmonar é motivado a tocar sax ou flauta. Refletindo sobre o slogan do Dr. Paulo, nos remetemos ao que o trabalho do Dr. Ronaldo Cunha Dias representa: “A arte na medicina às vezes cura, de vez em quando alivia, mas sempre consola.”


Através de seus traços rápidos e limpos, singeleza das cores e dualidade entre o cartum e a medicina, ele nos traz alegria e esperança, reflexão e posicionamento crítico, nos traz sobretudo o orgulho de saber que é médico-cartunista residente da nossa terra e conhecido nos quatro cantos do mundo. Embora não tenha nascido aqui, é um dos maiores Vacarianos da nossa história.

Um desenho pode ser crítico mas não precisa ser pesado,não deve ser preconceituoso, racista ou pejorativo. Há várias maneiras de chegar ao ponto que você quer com bom senso. Quando perde o respeito, a arte perdeu seu valor.”

REDES SOCIAIS

FACEBOOK INSTAGRAM
O conteúdo das ofertas é de responsabilidade exclusiva de seus anunciantes.