Pé no chão e açaí na tigela

Desta vez, decidimos fazer uma expedição diferente. Ao invés de falarmos sobre vacarianos que moraram ou moram fora, vamos contar a história de Nany Ferrari, natural do Mato Grosso, mas que viveu em vários outros estados do Brasil, até chegar em Vacaria por causa de um amor

01/09/2018 Expedição Carolina Padilha Alves

Nany Ferrari é mato-grossense, mas com quatro anos de idade se mudou para Manaus, capital do Amazonas. Com uma família grande, pai, mãe e mais três irmãos, eles eram se caracterizavam pelo jeito “cigano” de viver, mudando-se frequentemente em função de trabalho.

Aos quatorze anos, se instalaram em Piracicaba, estado de São Paulo, onde moraram por dez anos e ela pode finalizar seus estudos. Foi então que, ao fazer amizade com alguns alunos do curso de fotografia, que tinham projetos interessantes na área, Nany deu início à sua carreira de modelo. A partir desse momento, fotógrafos renomados começaram a chamá-la para trabalhos, e a profissional acabou fotografando para a capa da Revista Sexy, Revista Vip, Revista Trip e algumas marcas renomadas como Cavalera, Sumemo, entre outras.

Um traço importante da personalidade e estética de Nany, são suas tatuagens. Ela fez seu primeiro desenho na pele aos dezoito anos, pois trabalhava em um estúdio de tatuagem, e depois disso nunca mais parou. Com o corpo praticamente coberto, suas fotos começaram a ser feitas para um público específico e direcionado.

Aos vinte e quatro anos, Nany conheceu o vacariano Kevin Martins pelas redes sociais, e foi então que quando sua carreira estava verdadeiramente deslanchando e uma paixão à distância acontecendo, sua família resolveu mudar-se para o Pará, para morar em uma vila chamada Alter do Chão, pertencente ao município de Santarém. “Acabei ficando ainda mais distante do Kevin e sem condições de continuar como modelo por lá. Foi um verdadeiro recomeço na minha vida e da minha família, em todos os sentidos”, relembra a viajante.

Alter do Chão é extremamente diferente de qualquer outro lugar do Brasil. Os recursos são escassos, as pessoas vivem com o mínimo, a educação e saúde são precárias e a polícia é quase inexistente.

“É uma terra sem lei. Se alguém for pego roubando, os homens da vila se unem para pegar o ladrão e levá-lo até a polícia. As mulheres sofrem assédios diários e elas mesmas também se juntam para bater em quem as fez mal. Segurança pública não existe”, comenta.

Para ter acesso ao Pronto Socorro é preciso se deslocar até Santarém e, mesmo assim, chegando lá é possível ver uma cena de filme: pessoas definhando no chão, sem remédios, médicos ou atendimento adequado.

A alimentação que provém do local baseia-se em peixe, mandioca, que é utilizada do talo até a folha, açaí, caju, um tipo de banana e coentro. O resto é tudo trazido de outras regiões do país e, por isso, quando chega já está velho e com preços absurdos. “Cheguei a pagar dezoito reais um brócolis pequeno e o litro de leite, normalmente, custa oito reais”, diz Nany.

Os nativos, cobram um aluguel caro dos locais, tanto para moradia, quanto para abrir um negócio. Então, a família de Nany instalou um pequeno espaço para vender açaí, enquanto seu pai também fazia o transfer dos hotéis até o aeroporto, ajudava nos barcos de passeio, atuando em diversos empregos ao mesmo tempo para manter a família.

“Não é um local fácil de ganhar dinheiro, por isso as pessoas valorizam outras coisas, como um pôr do sol magnífico e o contato direto com a natureza. Cada pessoa tem praticamente um chinelo e uma muda de roupa e todos aprenderam a viver muito bem dessa forma”, explica.

Os turistas, que em sua maioria são estrangeiros, são bastante explorados pelos moradores da vila. Lá, eles se deparam com casas que não possuem camas, apenas redes, sem grades, construídas em cima da areia e ficam dia e noite abertas em função do calor recorrente de trinta e sete graus. As moradias são feitas de barro ou madeira e o quintal é, praticamente, um pedaço da floresta amazônica. Bichos exóticos, como urubu, era o animal de estimação de Nany e sua família, além de cachorros, gatos, e alguns macacos que vinham visitar a casa com frequência.

Entre idas e vindas do Pará até o Rio Grande do Sul, e vice versa, Nany e Kevin venceram a distância e se apaixonaram, ela engravidou nos primeiros meses de namoro e o casal resolveu abençoar essa união com um casamento feito em Alter do Chão. Madalena, a filha do casal, nasceu no Pará e, devido as condições de vida precárias da região, decidiram criar a criança aqui em Vacaria.

Para Nany, a mudança tem sempre os pontos positivos e negativos. Sua estada na terra dos rodeios requer uma adaptação diária, a começar pelo clima contrário ao que estava acostumada.

“Sofro muito com o frio que faz nessa região e também noto que as pessoas cuidam bastante da vida uma das outras. Gente que eu nunca vi antes quer dar palpite e opinião, mesmo sem termos solicitado. Isso é uma coisa que não acontecia em nenhum outro lugar que eu tenha morado anteriormente”, reflete.

Neste mês de Setembro, Nany e Kevin completam um ano de casados e tudo que fazem é pela filha. “Queremos criá-la nas melhores condições possíveis, com saúde, educação e, principalmente, empatia pelos demais seres humanos. Somos gratos pela nossa história de amor”, conclui.

 

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