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Uma paixão inexplicável faz parte da vida e da família dos gincaneiros

13/03/2016 Especiais Gabe Moraes Bruna Bueno

Ao invés de gincaneiros, por dez anos quem invadiu as ruas de Vacaria foi a saudade. Quando a Gincana chegou ao final um vazio enorme fez parte da rotina daqueles que viveram a cultura gincaneira no seu auge. Quem participou do evento em sua outra fase jamais imaginaria que ele iria acabar e retornar uma década depois ainda mais forte. Esse hiato teve um impacto muito grande na vida daqueles que estavam acostumados com a adrenalina das ruas e da corrida contra o tempo. Em 2012 a notícia tão esperada: ela vai voltar!

Por meio de uma luta muito bem fundamentada a Coordenadoria da Juventude, na época liderada por Osvaldo Grigolo Jr., não mediu esforços para provar os benefícios culturais, sociais e emocionais que somente a Gincana poderia trazer, reacendendo a chama nos corações gincaneiros e convencendo a administração municipal a apoiar o retorno.

Em 2009, fui convidado pelo ex-prefeito Elói Poltronieri para assumir a recém criada Coordenadoria Municipal da Juventude. Ouvi as demandas, conversamos bastante sobre os focos de trabalho e impus uma condição para assumir o cargo: Poder trazer a Gincana de Vacaria de volta. Para mim, era o mais importante naquele momento. Não aceitaria ter passado pela administração pública e não ter reativado um evento que é uma parte da vida de muitos vacarianos. Hoje, a gincana anda por si. Incluímos ela no calendário oficial, e em breve, Vacaria será declarada como a capital gaúcha das Gincanas Culturais. Para mim, não é e nunca foi só um evento, virou uma lição e um mantra de vida: Não há nada que seja impossível para a nossa gente quando estamos dispostos a fazer acontecer. A Gincana é o encontro de Vacaria consigo mesmo.” conta Osvaldo Grigolo Jr.

Nesse meio tempo muita coisa mudou, integrantes foram embora, filhos nasceram, a rotina esmagou o tempo que antes era dedicado exclusivamente às reuniões, os joelhos não eram mais os mesmos. Mas uma coisa não havia mudado: a vontade de continuar escrevendo histórias junto aos grandes amigos dentro do QG ou nas ruas da cidade. É na gincana que as amizades nascem e crescem, pois é onde todos são iguais, e segundo Ângela Sganzerla, líder da Revolução, depois que as pessoas conhecem de perto essa realidade nunca mais querem abandonar, pois é algo que envolve, é muito mais do que olhar como funciona mas participar efetivamente.

O diferencial da nossa gincana é a forma como a própria cidade a trata, mostrando que não pertence às equipes mas a comunidade, recebendo apoio do poder público, dos patrocinadores, da mídia, do vizinho que ouviu uma tarefa no rádio e tendo um objeto solicitado também quer ajudar, e dessa soma tão rica torna-se a cada ano mais grandiosa.

A cada edição a gincana cresce também em dificuldade e complexidade das tarefas, chamando uma grande responsabilidade para as lideranças e conselhos que precisam organizar muitos integrantes, distribuí-los nos setores e principalmente orientá-los sobre como participar de forma consciente. Se por um lado a gincana não é uma corrida de sacos, ela não é uma corrida desenfreada e perigosa pelas ruas como muitas vezes as pessoas imaginam. Marcelo Gasperin, que já foi líder da Pakydermes, vê um preconceito grande em relação às tarefas de rua com veículos, pois quem tem o hábito de correr vai correr sempre, independente de ser época de gincana, a diferença é que dentro das equipes é realizado um trabalho forte de conscientização. Os carros da rua recebem uma identificação visual com número e nome da equipe, além de que, há uma grande responsabilidade dos chefes dos caça-tarefas que conversam o tempo todo com os envolvidos nas buscas de rua, mas obviamente não há como controlar todos os participantes, e muitos problemas que surgem são causados por pessoas que não tem envolvimento direto com o evento.

A equipe organizadora tem o cuidado de sempre calcular um tempo suficiente para que a equipe tenha mais calma em buscar as tarefas, mas é algo imprevisível, pois no modelo “dois tempos” é preciso matar primeiro a charada para só depois se dirigir ao local ou buscar a segunda etapa que valida a prova. Clodoaldo Bueno, gincaneiro da Revolução, enfatiza que o trabalho educativo é feito sempre, que é preciso se proteger e incentivar para que todos se respeitem, pois se tiver limites não haverá problemas. Em todas as equipes é proibido o consumo de bebida alcoólica pelos participantes, seja no QG ou na rua, para evitar qualquer problema, até mesmo porque o integrante que descumprir essa medida pode, em casos mais sérios, ser excluído da equipe.

Para aguentar a pressão e atravessar a madrugada, além de disciplina é preciso bom humor. E por falar em bom humor, Marines Zucco Souza, a Neca, é nome conhecidíssimo pela galera da Pé na Tábua, gincaneira desde 1998 contagia a todos com sua motivação e alegra-se em ver que hoje a equipe é feita por uma geração que cresceu na adrenalina típica da gincana. Para ela a maior realização é ver as pessoas da comunidade colaborando com as brincadeiras, com as apresentações, e apenas sente falta dos desfiles, que foram substituídos pelos shows culturais temáticos e também arrastam centenas de pessoas para a praça Daltro Filho.

As equipes são verdadeiras famílias, muitas vezes compostas por várias gerações que se envolvem o ano inteiro em ações, eventos, treinamentos, festas e reuniões, cumprindo um calendário pensado pela liderança e pelos conselhos das equipes. Quem nunca participou não faz ideia da organização de um QG (local escolhido pelas equipes para reunir-se e trabalhar durante os dois dias de tarefas), que funciona como uma verdadeira empresa, com líderes de setor, recepção de integrantes, gravação, acervo, produção, finalização, e muitos outros elementos que compõem essa fábrica de emoções.

O amor pela gincana vem de berço. Vicenza Gasperin nasceu em uma época que o evento havia parado, e desde muito pequena ouvia os pais falarem cheios de emoção sobre um universo mágico que tomava conta das ruas de Vacaria. Não deu outra, quando a gincana voltou, ela e a irmã Luiza estavam entrosadas na manada, sob o olhar orgulhoso dos pais Juliana e Marcelo, que fazem parte da Pakydermes antes mesmo dela ser equipe, quando os amigos participavam do bloco de carnaval Halligaly.

Essa paixão está na família de Marina Dal Ponte Hoffman há quatro gerações. Iniciada pelo avô, o gincanear pela Rastro é uma grande ligação entre a família. Sorri ao lembrar da sua disciplina desde pequena quando participou de uma tarefa vestida de Mãozinha da Família Adams madrugada a fora na antiga hípica, com uma roupa de fibra a qual mal conseguia se mexer, o episódio ficou marcado em sua vida, tanto quanto fazer parte da realeza da equipe , enraizando nela o desejo de sempre estar na família vermelha. Família essa que também é da Micaeli Perin que há dois anos encontrou na Rastro uma identificação e um acolhimento tão grande que não trocaria por nenhuma outra.

O apelo das equipes é que a comunidade participe, pois todo talento é utilizado e valorizado nos mais diversos setores. A importância de participar das atividades que ocorrem antes dos dias da gincana é justamente para identificar as aptidões de cada pessoa e inseri-la da melhor forma no grupo proporcionando ao integrante diversão e oportunidade real de colaborar com sua equipe. Nathalia Ramos, gincaneira - desde que se conhece por gente - observa que quando os integrantes só participam no dia da gincana, podem se sentir excluídos, pois por mais que a equipe tente acolher todos, o fluxo dentro do QG é muito intenso, e quando o integrante procura participar das reuniões, normalmente já escolhe o setor que tem mais afinidade e participa ativamente das tarefas.

Quem tem interesse em ingressar na gincana começa pela missão de identificar qual sua equipe do coração, escolhendo uma das quatro opções Pakydermes, Pé na Tábua, Rastro ou Revolução, cada uma repleta de histórias, emoções e particularidades, mas todas com o mesmo objetivo: envolver a cidade em muita alegria, estratégia, dedicação e comprometimento. As inscrições podem ser feitas pelo site das equipes ou nas reuniões gerais que são amplamente divulgadas nas redes sociais.

O QUE VOCÊS GANHAM COM ISSO?

Respondendo a pergunta clássica feita aos gincaneiros:

Acho muito importante as pessoas que não conhecem a gincana participarem. É uma paixão que não tem explicação, somente quem vive faz ideia do quanto a nossa vida muda por estar ali com aquelas pessoas. Não são dois dias, é o ano inteiro, para algumas pessoas uma vida toda.”
Marina Dal Ponte Hoffmann, terceira das quatro gerações de sua família na Rastro

O pessoal foca muito na competição, mas esquece de falar sobre o espírito de colaboração que integra pessoas que se conhecem dentro do QG e acabam se tornando grande amigos. É um ajudando o outro para a equipe conseguir chegar ao seu objetivo. É através dessa colaboração que as equipes crescem, deslancham.”
Marcelo Gasperin, gincaneiro há 37 anos

Troféu é apenas uma consequência, todos desejam ganhar, mas seja primeiro, segundo, terceiro ou quarto, independente do resultado, quem é gincaneiro de verdade estará lá no outro ano novamente. Gincana para mim é isso. Eu quero o troféu, mas eu quero muito mais ir para a gincana, estar com a minha equipe.”
Marines Zucco, gincaneira desde 1998

Difícil mensurar quantas pessoas eu conheci por causa da gincana, já fui até madrinha de casamento de pessoas que jamais teria conhecido se não fosse pelo envolvimento com a equipe, que eu jamais imaginei me relacionar e hoje não me imagino sem. Gincana para quem nunca participou é como um prato que você nunca experimentou e diz que não gosta, tem que se permitir experimentar. O único risco é se apaixonar pra sempre.”
Ângela Sganzerla, líder e revolucionária há muito tempo

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