Adotando as diferenças

Enquanto filhotes em perfeitas condições físicas são adotados diariamente ao redor do país e do mundo, cachorros com deficiência são deixados de lado e passam anos em canis esperando por um lar. Conheça a seguir, pessoas que fizeram o contrário e abriram seu coração e sua casa para receber um cão deficiente e cheio de amor para dar, além do trabalho desenvolvido por uma ONG vacariana que atualmente está com duzentos animais, entre cachorros e gatos de todos os tipos, quase todos prontos para serem adotados

01/06/2019 Especiais Carolina Padilha Alves Tiago Sutil

As pessoas, em sua maioria, têm expectativas em relação ao bicho de estimação que pretendem adotar. Elas esperam que este supra suas necessidades e, ao chegarem em um canil de passagem, procuram por um estereótipo padrão, que tem como características animais claros, peludinhos, jovens e de pequeno a médio porte.

Este ideal de pet bate de frente com a realidade das ONG’s de animais, que abrigam, muitas vezes, bichos velhinhos, idosos, de coloração escura, porte grande e com deficiências físicas. Essas opções são sempre as que mais demoram para sair dos canis ou, até mesmo, acabam ficando até o fim da vida nesse lugar.

No entanto, é importante lembrar que, animais velhos e imperfeitos possuem as mesmas condições de amar, se relacionar, acompanhar seu dono e viver uma vida longa e de qualidade ao lado da família humana. É claro que, devido a sua disfunção, seja ela a perda de uma pata, da visão e audição, problemas de pele, etc, estes requerem mais cuidado e empatia, além de esperarem tanto amor, quanto os demais cãezinhos.

Por isso, vamos contar histórias de vacarianos que têm em suas casas, animais deficientes. Alguns foram adotados assim, outros sofreram lesões quando já eram da família, mas em todos os casos, os cuidados e a relação entre eles e seu dono, só se fortaleceram com o passar do tempo.

A beleza na imperfeição

Poliana Finardi é dona da Sol, cadelinha que há três anos ficou paraplégica devido a mielomalácia (lesão na coluna espinhal). O primeiro mês de adaptação, tanto do animal, quanto da Poliana, foi bem complicado. A rotina mudou, as atenções eram todas voltadas para ela e suas necessidades, tendo sido levada em especialistas de outras cidades para tratar o problema.

“Eu chorava muito e quando não estava com ela, ficava ligando para casa para saber notícias. Muitas pessoas disseram para eu me desfazer da cachorra, que estava tendo muitos gastos, que ela não teria mais serventia, que não teria tempo para cuidar e que a melhor opção seria a eutanásia. Fui lá e fiz tudo ao contrário do que me aconselharam e foi a melhor decisão da minha vida”, relembra Poliana.

Decidida a fazer tudo o que estava a seu alcance para dar bem estar ao animalzinho, a dona conseguiu uma cadeira de rodas para a Sol, que já foi até para a praia brincar na areia com seu novo acessório. Sol mantém uma vida normal, adora passear, comer, brincar de bolinha e tem um gênio muito forte, sentindo ciúmes de quem se aproxima das pessoas que ama.

A cadela usa fraldas e precisa que seja feita compressão na bexiga e no intestino, de quatro em quatro horas, para ajudar no sistema urinário e escrotal, já que essas funções também ficaram afetadas. No inverno, ela não pode deitar diretamente no chão para que não entre em contato com o frio, pois fica doente com mais facilidade, tendo uma caminha sempre à sua disposição, além de um enxoval que mais parece ser de uma criança, do que de um pet.

Essa cadelinha especial é uma verdadeira guerreira, pois já tirou um cisto, teve problemas de coração, no útero e por último arrancou nove dentes. Tem a alimentação controlada para não ganhar muito peso e mantém-se sempre tosada, facilitando os cuidados.

Poliana trabalha na APAE e já levou sua cachorrinha para fazer uma visita ao pessoal, onde foi recebida com muito carinho, mostrando que não tem limitações e proporcionando uma identificação dos alunos com o animal. Além da pequena, a dona ainda possui outros cinco cachorros, todos adotados da rua, os quais não necessitam de cuidados especiais e demonstram entender a atenção maior dada à Sol.

“A vaidade de ter um bicho perfeito é nossa, é do ser humano. Para eles, a única necessidade é continuar com a gente. A Sol é como se fosse minha filha, companheira de todas as horas e a qual eu vou cuidar e amar até o fim”, conclui, emocionada.

Cachorro tripé

O Perdido tem esse nome devido a sua história. O cachorro foi encontrado cheio de moscas e larvas após uma briga com um Pit Bull e levado para uma clínica, para realizar a amputação de uma das patas. Nesta clínica, trabalhava Marcela Maidana, que participou de toda a recuperação do animal e viu que ele passou nove meses esperando por um lar, e ninguém o adotou. Foi quando decidiu levar o Perdido para casa. “Fazia pouco tempo que a minha cadelinha havia falecido e eu, meu marido e filho estávamos com um vazio muito grande, sentindo a falta dela. Então, não pensei duas vezes e trouxe o cachorro para casa. Ao descer do carro, ele parecia já pertencer ao local há muito tempo”, comenta a dona.

Perdido leva uma vida sossegada, corre bastante e, por vezes, ninguém nem nota que lhe falta a perna traseira. Com seis anos de idade, ele tem dentes moles e amarelados devido a quantidade de medicamentos que já tomou, mas nunca teve nenhuma doença grave em outro órgão. Tem fama de morder os tornozelos das visitas e é um cachorro que precisa ficar sozinho, sem a presença de outro animal, já que avança em todos aqueles que lhe apresentarem perigo, devido ao trauma sofrido na briga que lhe custou uma pata.

O guardião da casa ganhou uma portinha do seu tamanho na garagem, onde pode entrar e sair quando e quantas vezes quiser.

“Nas clínicas e ONGs eles recebem os cuidados básicos, como alimentação e vacinas. Porém, esse ambiente não é como ter uma família de verdade e foi por isso que resolvi trazê-lo para casa. Hoje, ele me olha e parece que ele demonstra sentimento de gratidão pelo que fiz”, afirma Marcela.

O Perdido tem uma alimentação regrada, evitando o aumento de peso e o desgaste acelerado na coluna. A sensação do membro perdido ainda existe, fato esse conhecido como distúrbio do movimento, onde a pessoa ou o animal agem como se a parte amputada ainda estivesse ali. No caso de Perdido, ele ainda levanta sua pata fantasma para fazer xixi, por exemplo.

Extremamente ativo, o pequeno trouxe vida nova para essa casa e encheu de amor a família que estava precisando de uma boa companhia.

Diferenças no mundo pet

Bruna Michellon tem cinco cachorros em sua casa. Entre eles, dois são deficientes. O Beethoven é um senhor de quatorze anos, que foi adotado pela família ainda bebê, e quando tinha apenas um aninho fugiu e foi atropelado, debilitando a pata esquerda dianteira.

Ele ficou por um tempo usando tipoia, na tentativa de recuperar o membro. Porém, ele perdeu a sensibilidade na pata e começou machucá-la, mordendo, batendo nos lugares e, em função disso, optaram pela amputação. Hoje, depois de tanto tempo, os seus exames de raio-X acusam sequelas, como a coluna torta e a perda fácil de equilíbrio.

Já o Aquiles, que também sofreu um atropelamento, mas quando ainda era cachorro de rua, foi resgatado pela família apenas para ser cuidado por um tempo, até ser colocado para adoção. Porém, não teve jeito, todos se apaixonaram e ali mesmo o animal ficou.

“Nós somos voluntários da ONG Amigo do Bicho, e nosso lar é casa de passagem para alguns deles. Com o Aquiles foi diferente e resolvemos mantê-lo para sempre conosco”, diz Bruna.

Devido ao acidente, Aquiles quebrou a mandíbula, a qual não fechava mais, como se tivesse caído a parte debaixo da boca. Depois de algum tempo andando com fita ao redor da boca e sendo alimentado por seringa, a mandíbula calcificou e hoje ele tem dificuldade para comer, mas consegue levar uma vida normal.

Além disso, ele nasceu com problema de pele, que fez com que não crescessem pêlos, principalmente nas costas, e esse fator exige cuidados, como hidratação diária com cremes e óleos, proibir a exposição direta ao sol, espantar mosquitos e, no inverno, vestir sempre uma roupinha que faça o papel dos pêlos e esquente o animal. Essa doença não aumenta, não diminui e não possui tratamento.

Cada um tem o seu canil, pois brigas feias já aconteceram no passado entre a dupla, levando a dona a mantê-los vivendo separados e do lado de fora da casa. Apesar da convivência perturbada dos dois, para Bruna não existem bichos melhores para estarem ao seu lado. “Não posso mentir, dá muito trabalho, mas é muito gratificante. Não me imagino sem um animal de estimação e, muito menos, sem dedicar parte do meu tempo para eles. São meus amores”, descreve a dona.

Amigo do Bicho

A ONG Amigo do Bicho existe há dezesseis anos e abriga mais de 200 animais, entre cachorros e gatos, em sua maioria prontos para adoção, e alguns ainda em tratamento. Além destes, galos de rinha que foram apreendidos pela polícia devido aos maus tratos, atualmente também residem na casa de passagem.

Necessitando de mais de três toneladas de ração mensalmente, a organização sobrevive da cooperação da prefeitura e do fórum, doações da comunidade e entidades, e desenvolvendo ações como o Brechocão, brechó que acontece periodicamente na praça Daltro Filho, além da arrecadação das casinhas de moedas espalhadas em estabelecimentos comerciais.

Há algum tempo, o Amigo do Bicho firmou parceria com a Unifacvest, de Lages/SC, que ocupa as aulas práticas dos alunos do curso de veterinária, para castrar animais e, assim, ajudar no controle populacional de cachorros e gatos em nossa cidade.

Costumeiramente, animais atropelados são levados para lá, com bicheira ou fraturados. A primeira tentativa é sempre curar e tratar o problema, levando para cirurgia e retirada de membros em último caso. Porém, quando é necessário, os animais passam pelo procedimento e retornam a ONG, onde ficam aguardando por um lar. Élio, um dos atuais diretores da organização, comenta sobre a dificuldade de adoção para animais com deficiência.

“Normalmente as pessoas chegam na sede querendo cachorro de raça. Quando postamos algum bicho puro ou com características expressivas de alguma raça em nosso Facebook, a procura é enorme, ao contrário dos demais. Notamos na prática, que não existe diferença entre eles e, muitas vezes, os vira latas tem um comportamento ótimo, da mesma forma que os com necessidades especiais. É muito difícil alguém entrar lá para adotar um animal deficiente”, conta.

 

O Amigo do Bicho é aberto para visitação sempre aos domingos, das 14h às 17h.

Ser vira lata é ser exclusivo, nunca vai existir outro igual!

 

Saiba como ajudar, entrando em contato:

Estrada Passo do Viana, 310 - Capela da Luz (ao lado do cemitério São Francisco)

contato@amigodobicho.net

Daniela - (54) 99903-8954

Élio - (54) 9991077-44

 

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